Pereira, que será candidato pelo Avante, tem uma
loja de celular na cidade de 40 mil habitantes e resolveu inovar ao anunciar
sua estreia na política. Neguinho Celular, como é conhecido, lançou um santinho
virtual explorando, ao mesmo tempo, uma foto do petista e outra do
presidente.
Segundo ele, há que se absorver o que de melhor
cada um apresenta. Por outro lado, não nega que seu objetivo era aparecer
agradando a todos.
"Eu falei: 'Isso aqui vai causar. Santa Maria
vai fazer resenha disso aqui. E agora estão fazendo no País todo", disse
ao Estadão. "Teve uns que me chamaram de sem noção, outros me chamaram de
gênio do marketing e outros falaram que a Nasa tem que estudar minha
cabeça."
Mas a estratégia de Neguinho para alavancar a
pré-campanha pode ser irregular, uma vez que a montagem que ele encomendou a um
amigo pode ser interpretada como tentativa de ludibriar eleitores, ao sugerir
que detém o apoio de candidatos antagônicos.
O advogado especialista em Direito Público e mestre
em Direito Constitucional Hélio Deivid Amorim Maldonado afirma que a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as vedações que
incidem sobre a propaganda eleitoral no processo eleitoral incidem também sobre
a propaganda em pré-campanha.
"Nesse diapasão, na propaganda de pré-campanha
não devem ser empregados 'meios publicitários destinados a criar,
artificialmente, na opinião pública, Estados mentais, emocionais ou
passionais'. No caso do pré-candidato Neguinho, é certo que o mesmo quer
ludibriar o eleitorado com sua indevida propaganda, ao induzir que a um só
tempo detém o apoio de Lula e Bolsonaro. Uma apropriação indébita de capital
político não misturável", disse Maldonado.
A ideia foi inspirada em outro santinho que ganhou
a internet a partir de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte. Com uma foto de Lula
e outra de Bolsonaro, o servidor público Bruno Almeida se apresentou como
pré-candidato a prefeito do município. Crítico da gestão atual, convocou a
população a "renovar". Nesse caso, foi só uma brincadeira.
"Muita gente concorda comigo aqui, diz que não tem nada a ver ser de um
lado e falar que o outro não presta", contou Almeida. "Foi só uma brincadeira.
Quem sabe, um dia, ela pode se tornar realidade".
O caso mais emblemático de "bolsolulismo"
até aqui é o do prefeito de Belford Roxo (RJ). Wagner Carneiro, o Waguinho
(MDB), é aliado do presidente Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, apoiado pelo PT.
Waguinho foi um dos únicos prefeitos da Baixada
Fluminense a pedir votos pra Bolsonaro, em 2018. A mulher dele, a deputada
federal Daniela do Waguinho (MDB-RJ), também é apoiadora do presidente.
O PT chegou a discutir retirar o apoio à reeleição,
mas decidiu mantê-lo apesar de a militância em favor do adversário político.