Após intervir na Petrobras, Bolsonaro diz que gasolina poderia estar 15% mais barata
Questionado sobre a queda nas ações
da Petrobras após a demissão de Roberto Castello Branco do comando da estatal,
Bolsonaro disse que a empresa é mista e o mercado é que decide.
"Eu não interferi na Petrobras.
Está na capa de todos os jornais que eu interferi. O preço continua aquele
fixado, com 15% [de reajuste] no diesel e 10% na gasolina. Se bem que pelo que
eu tive conhecimento, não oficialmente, porque não interfiro, o reajuste seria
bem menor".
O preço do combustível, continuou o
presidente, "poderia ser no mínimo 15% mais barato sem interferência do
Executivo. É atacando as fraudes. Há uma indústria bilionária clandestina nos
combustíveis no Brasil".
A Petrobras informou, na
quinta-feira (18), dois novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel, que
subiram 10,2% e 15,1%, respectivamente, a partir de sexta-feira (19). Foi o
quarto reajuste da gasolina e o terceiro do diesel em 2021.
Mesmo reafirmando que não trabalha com interferências políticas
na empresa, Bolsonaro disse que a alta não tem
justificativa. "Vou interferir? Não vou, mas não se justifica".
Bolsonaro questionou se
órgãos como a ANP, Ministério de Minas e Energia, Secretaria Nacional de Defesa
do Consumidor (do Ministério da Justiça) e o Inmetro (Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia) estariam funcionando a contento, o que
poderia, segundo ele, ter garantido preços mais baixos dos combustíveis –que
ele ainda classificou como de má qualidade.
Ele também disse que há locais em que o crime organizado comanda
redes de postos privados. "Tenho informações, inclusive, que o PCC
[Primeiro Comando da Capital] domina a rede privada de postos em um grande
estado do Brasil".
Indicado para a Petrobras em meio à insatisfação do presidente
com a política de preços da estatal, o general Silva e Luna disse à Folha na
tarde deste sábado que a empresa está "no meio da sociedade" e que
seus produtos finais, como combustível e gás, se destinam às pessoas.
Mesmo assim, o general
negou a possibilidade de Bolsonaro intervir na estatal e na política de preços
praticada pela empresa. "Jamais haverá ingerência do presidente. Ontem, na
nossa conversa, ele não falou nada disso", afirmou Luna.
Ao reclamar que não havia "previsibilidade", Bolsonaro elogiou o
general e afirmou que ele fará um bom trabalho. O presidente ainda negou que
tenha interferido na empresa para atender demandas dos caminhoneiros, categoria
que já ameaçou paralisar neste mês.
"Não é apenas como diz a imprensa, que o meu eleitorado é o caminhoneiro.
O caminhoneiro é quem leva a comida na casa de todo mundo. E se o frete sobe,
na ponta da linha sobe também. Agora eles [da imprensa] atacam a economia para
tentar me atingir".
"Se eu tivesse esse poder todo [de interferir] não estaria num pais
democrático, e nós queremos um país democrático", disse o presidente da
República.
Recentemente, Bolsonaro
vem travando uma batalha na área de combustíveis em diversas frentes. Além do
anúncio repentino da isenção de tributos e da pressão pela saída de Castello
Branco, ele também vem comprando briga com governadores. Na última semana, o
presidente enviou ao Congresso um projeto para mudar a forma de tributação
estadual sobre combustíveis. A medida estabelece um valor fixo e único para o
ICMS em todo o país. Hoje, cada estado define sua alíquota.
Neste sábado, ele voltou a
defender o projeto mas garantiu que não estava criticando os governadores.
Assim como dissera mais cedo, também neste sábado, Bolsonaro voltou a anunciar
que haverá novas mudanças no governo. "Eu não tenho medo de mudar, semana
que vem deve ter mais mudança. E mudança comigo não é de 'bagrinho', é de
tubarão", disse.
"O que eu quero é que todos órgãos vinculados ao governo tenham
transparência e se prestem ao serviço da população. Óbvio, se tiver dando
errado, a gente muda".
O presidente atribuiu a
alta de preços de produtos da cesta básica às restrições de circulação
relacionadas à pandemia de coronavírus. Desde o início da pandemia, Bolsonaro é
crítico às medidas sanitárias de controle da doença.
"Sabemos da inflação, que está havendo nuns produtos da cesta básica, em especial, mas [isso] vem da política do fique em casa e a economia a gente vê depois. Sempre falei que tínhamos que tratar questões do desemprego, economia e vírus com a mesma responsabilidade", disse.
O Brasil acumula cerca de 245 mil mortes pela Covid-19. O governo patina para garantir a oferta de vacinas e investiu desde o ano passado na promoção e distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada.
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