Em manhã com clima de campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL), neste sábado (22), voltou a minimizar o número de mortes de crianças por coronavírus, criticou o governo Lula e falou em zerar imposto do diesel. Um dia após o enterro da mãe, Olinda, 94, Bolsonaro saiu da casa da família, em Eldorado, interior de SP, e passou mais de uma hora conversando com jornalistas e moradores da cidade.
O presidente
voltou a citar remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus e disse
que o número de mortes de crianças pela doença foram insignificantes. De acordo
com dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), desde
o começo da pandemia até 6 de dezembro de 2021, foram registradas 301 mortes de
crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19 no país.
“Se você
analisar, 2020, 2021, mesmo na crise da coronavírus, ninguém ouviu dizer que
estava precisando de UTI infantil. Não teve. Não tivemos. Eu desconheço criança
baixar no hospital. Algumas morreram? Sim, morreram. Lamento, profundamente,
tá. Mas é um número insignificante e tem que se levar em conta se ela tinha
outras comorbidades também”, disse.
Em dezembro, o
presidente apoiou a declaração feita pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga,
e disse que o número de óbitos nessa faixa etária não justificava uma ação
emergencial. No início deste mês, o chefe do Executivo disse desconhecer morte
de crianças pela Covid.
Bolsonaro
também afirmou que a vacina para crianças não é obrigatória e que devem ser
citados possíveis efeitos colaterais. “A vacina para crianças não é
obrigatória. E tem que ser falado o quê por ocasião da vacinação? Quem for
aplicar a vacina? Olha, tá aqui teu filho, de cinco anos de idade. Ele pode ter
palpitação, dores no peito e falta de ar. Vai ser dito para ele, como está no
despacho do Lewandowski”.
Citando um
estudo, o presidente disse ainda que o uso da ivermectina poderia ter salvo a
vida de centenas de milhares de pessoas. A droga antiparasitária, comumente
usada para o gado, não deve ser usada para tratar ou evitar a Covid-19, disse a
FDA (agência de alimentos e medicamentos dos EUA).
Ele ainda
reclamou das críticas quando se fala sobre a pandemia, uma vez que o conteúdo
pode ser retirado do ar, e que só é possível falar do assunto no WhatsApp. “Se
você discutir Covid, passou a ser crime. Se falar qualquer coisa sobre vacina,
passou a ser crime, derruba a sua página. Cadê nossa liberdade de expressão
para debater? Sobrou a rede de zap”
Ele também
falou sobre uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para autorizar a
redução temporária de tributos sobre combustíveis, uma tentativa de dar alívio
ao bolso dos consumidores em ano eleitoral. Bolsonaro afirmou que a PEC é
autorizativa.
“Eu vi um órgão
de imprensa dizendo que com essa PEC da imprensa eu quero confusão com os
governadores. Confusão se fosse uma determinação, a PEC é autorizativa. Eu
garanto para você, se a PEC passar, no segundo seguinte à promulgação, eu zero
o imposto federal do Diesel no Brasil”, disse.
“Não quero
brigar com o governador. Quero dar a chance para ele diminuir o ICMS se ele
achar que pdoe diminuir”, acrescentou. O mandatário também disse que foi vetado
do orçamento R$ 2,8 bilhões, parte da verba do Executivo e parte das emendas de
comissão.
O presidente
aproveitou a ocasião para rebater boa parte das críticas da oposição à sua
gestão. E adotou a estratégia de comparar sua gestão com a do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas eleitorais para
presidente.
“Quando se fala
‘no meu governo se comia melhor’… O Lula governou sem teto [de gastos]. Podia
gastar à vontade”, disse. Mesmo assim, diz Bolsonaro, no governo petista não
teria sido feito um Bolsa Família “razoável” para as pessoas, citando valores
maiores em sua gestão.
O presidente
fez referência a corrupção no governo do PT e disse que, se Lula ganhasse,
políticos como José Dirceu e José Genoino voltariam. “Agora querem que o ladrão
volte à cena do crime, pelo amor de Deus?”, disse, em outro momento. “Vocês
querem a volta da ideologia de gênero? Querem o loteamento de ministérios? Olha
o padrão dos meus ministros e os anteriores”.
Ainda no combo
eleitoral, o presidente aproveitou para fazer campanha para Tarcísio de
Freitas, ministro da Infraestrutura que Bolsonaro quer emplacar como candidato
a governador. “Levantamos em São Paulo, tem milhares de obras inacabadas em São
Paulo. Por que eu falo em São Paulo? Porque o Tarcíso talvez venha candidato
por lá. E a especialidade dele é concluir obras”, disse.
Em um roteiro
que repassou diversas críticas que sofre, o presidente disse que o governo foi
bem na economia e que o Brasil vacinou muito. “A consequência do fique em casa,
a economia a gente vê depois: inflação. Tem países que estão com
desabastecimento. Na economia, o Brasil foi um dos países que melhor se saiu’,
disse. “Acusações de genocida, negacionista? Pelo amor de Deus. Olha o que foi
feito, somos um dos países que mais vacina no mundo”.
Ele também
citou a investigação sob suspeita de interferir na Polícia Federal. “Se eu
pudesse interferir na PF, o Lula também poderia. Ele poderia ter abortado um
montão de operações da PF. “, disse. “Aquele ex-ministro Sergio Moro
[presidenciável pelo Podemos] falou que interferi e a prova estava naquela
reunião secreta minha. Foi mostrado. Vocês ouviram infelizmente 29 palavrões”,
disse. “Interferi que interferência?”.
Bolsonaro
emendou diversos assuntos, de histórias sobre a juventude na cidade, passando
por casos em que teria salvado pessoas de afogamento, até ações de governo,
como o Linhão de Tucuruí, que vai ligar Roraima ao Sistema Nacional de Energia.
“Hoje em dia se gasta, de forma subsidiada, um milhão de litros de óleo diesel
para ter energia em Roraima. Podia abandonar Roraima, né? Um estado que quase
não tem densidade eleitoral nenhuma. Mas, não, estamos lá colaborando com
Roraima”,
O presidente ainda parou para conversar com moradores e entrou numa lotérica para jogar na Mega Sena-ele chamou um rapaz, dono de um circo, para entrar no estabelecimento com ele. Por volta das 11h, o presidente decolou rumo a Brasília. Ele estava em Eldorado desde a tarde de sexta-feira (21), quando acompanhou enterro da mãe. No dia anterior, o presidente se emocionou diversas vezes durante a despedida de Olinda.