O Ministério Público do Rio de Janeiro estima que o miliciano
Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, possa ter transferido mais de
R$ 400 mil para as contas de Fabrício Queiroz, ex-PM apontado como operador
financeiro de organização criminosa instalada no gabinete do senador Flávio
Bolsonaro quando deputado estadual no Rio.
A indicação consta na
decisão do juiz Flávio Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, que mandou prender
Queiroz e sua mulher Márcia Oliveira de Aguiar. O ex-assessor do filho ’01’ do
presidente Jair Bolsonaro foi encontrado na manhã desta quinta, 18, em uma casa
em Atibaia de propriedade do advogado Frederick Wassef, advogado de Flávio.
Márcia é considerada como foragida pelo MP-RJ.
Adriano foi
morto em fevereiro deste ano pela polícia da Bahia, no município de Esplanada.
Era apontado por investigadores do Rio como chefe do Escritório do Crime, grupo
de pistoleiros da milícia na zona oeste da capital fluminense. Quando ainda era
policial militar – chegou a ser capitão do BOPE -, Adriano trabalhou com
Queiroz no batalhão de Jacarepaguá, também na zona oeste. Ele responde juntos a
um homicídio registrado como “auto de resistência”.
A ex-mulher do
miliciano Danielle Mendonça da Nóbrega e sua mãe, Raimunda Veras Magalhães,
eram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do
Rio. Juntas as duas receberam R$ 1 milhão em salários e devolveram pelo menos
R$ 202 mil em transferências identificadas para conta de Queiroz e outros R$
200 mil ainda não identificados.
Segundo dados
de geolocalização obtidos pelos investigadores a partir do rastreio do celular
Raimunda, ela jamais teria aparecido nas cercanias da Alerj no período em que
deveria exercer a função pública.
Na
representação enviada à Justiça para deflagração da Operação Anjo – que mirou
ainda ex-assessores da Alerj, um servidor que foi afastado e um advogado – o
Ministério Público do Rio de Janeiro indicou que há registros nos dados
bancários de Queiroz que indicam que uma pizzaria administrada por Raimunda Veras
Magalhães, mãe de Adriano, e uma outra pizzaria administrada pelo próprio
miliciano, transferiram R$ 69,250 mil para o suposto operador financeiro de
Flávio Bolsonaro.
“Não se pode
perder de vista que no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 foram
efetuados 17 depósitos em espécie na conta corrente de Fabrício Queiroz,
totalizando R$ 91.796, na agência Rio Comprido do Banco Itaú, localizada na
mesma rua dos restaurantes administrados por Raimunda Veras Magalhães”,
registra ainda a decisão de Nicolau.
Orientações
e ‘influência’ na milícia
O suposto
repasse de R$ 400 mil de Adriano para Queiroz foi apontado como um de dois
aspectos da relação de Queiroz com grupos paramilitares, ligado à parte
econômica, em razão de um suposto enriquecimento associado à milícia carioca. O
outro aspecto destacado pelos investigadores é político e foi levantado a
partir de suposta ‘influência’ exercida pelo ex-assessor entre os grupos de
milicianos.
Em mensagens
trocadas com a mulher, Márcia Aguiar, o ex-assessor parlamentar se compromete a
‘interceder pessoalmente’ junto a milicianos em favor de um homem que pede sua
ajuda após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá, também na zona oeste
carioca.
Os promotores
também apontaram que em dezembro de 2019, Queiroz sua mulher e o advogado
Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente teriam
orientado a mãe do Capitão Adriano, a ficar ‘escondida’.