Na primeira eleição
municipal após uma onda conservadora ter ajudado a eleger o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) e governadores nos principais estados do país,
prefeitos buscaram legendas mais à direita para disputar a reeleição ou para
emplacar seus sucessores.
Levantamento
feito pela Folha aponta que DEM, PSD, PP e Republicanos foram os partidos que
mais ganharam novos prefeitos por meio da migração partidária de 2017 a 2020.
Por outro lado,
partidos tradicionais do centro político, como MDB e PSDB, e legendas mais à
esquerda, como PSB, PDT e PT, perderam espaço em relação ao número de prefeitos
que elegeram em 2016.
A maioria das
mudanças aconteceu na janela partidária de abril passado, período no qual os
vereadores puderam mudar de partido sem sofrer punições. Com isso, os prefeitos
e seus aliados trocaram de partido em bloco, já com vistas à eleição municipal
deste ano.
O DEM, que
havia eleito 272 prefeitos na eleição de 2016, saltou para 456 em junho deste
ano. Estados do Centro-Oeste, onde o partido elegeu em 2018 os governadores
Ronaldo Caiado (GO) e Mauro Mendes (MT), puxaram esse crescimento.
O movimento se
repetiu no Tocantins, onde o partido saiu de apenas 1 prefeito para 38 após a
filiação do governador Mauro Carlesse em maio do ano passado. Também houve
crescimento robusto em Minas Gerais.
Criado em 2011
em meio a uma dissidência do DEM, o PSD cresceu de 538 para 672 prefeitos no
mesmo período.
O partido
avançou principalmente no Paraná, onde saiu de 28 para 105 prefeitos após a
eleição do governador Ratinho Júnior em 2018. Também se consolidou no Nordeste
e já é a legenda com mais prefeitos na região, superando o MDB.
O PP fez
movimento semelhante e saltou de 497 para 632 prefeitos, ganhando espaço
principalmente no Nordeste —são 110 novos prefeitos na região.
O partido adotou
uma estratégia de um pé em cada canoa: aproximou-se de Bolsonaro e também é
aliado de governadores de partidos de esquerda como PT, PC do B e PSB.
Presidente
nacional do partido, o senador Ciro Nogueira (PI) afirma que o PP tem perfil
municipalista e admite que o apoio da bancada de deputados ao presidente e
governadores é um fator que atrai a filiação de prefeitos.
“A nossa
bancada na Câmara precisa de prefeitos para se fortalecer. E, como a bancada
tem boa relação com o governo, ela ajuda os prefeitos na liberação de recursos
para os municípios”, afirma Nogueira. Para 2020, o partido tem como meta ficar
entre os três que mais vão eleger prefeitos.
Na contramão de
DEM, PSD e partidos do chamado centrão, MDB e PSDB perderam espaço entre os
prefeitos na comparação com 2016. As perdas de chefes de municípios aconteceram
após esses dois partidos sofrerem um baque na eleição de 2018, com redução
expressiva de suas bancadas na Câmara dos Deputados.
Mesmo com as
perdas, as duas siglas ainda são as que mais têm prefeitos no país. Mas
perderam terreno nas capitais: o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro,
trocou o MDB pelo DEM. Já o de Maceió, Rui Palmeira, deixou o PSDB e segue sem
partido.
O MDB perdeu
espaço no Nordeste e Sudeste, mas ainda mantêm força no Sul, principalmente em
Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Os tucanos
viram uma revoada de prefeitos nos estados em que foram derrotados nas
eleições, caso de Paraná, Pará e Goiás. Por outro lado, o partido cresceu em
São Paulo sob a batuta do governador João Doria.
Levando em
conta todos os partidos, o maior número de migrações aconteceu do MDB e PSDB
para o DEM. Na sequência, aparecem as mudanças do PSDB e do MDB para o PSD.
Gilberto
Kassab, presidente do PSD, afirma que a filiação de novos prefeitos aconteceu
de forma natural, movida pela política local.
“Por ser um
partido de centro, um centro ideológico, um centro bastante radical, o PSD tem
melhores condições de diálogo com uma gama maior de lideranças que estejam
descontentes com seus partidos, seja por causa de questões ideológicas ou de
questões locais ou mesmo partidárias”, afirma.
Dentre os
partidos de esquerda, PSB, PDT, PC do B, PT e PSOL sofreram baixas. O PSB é o
que teve pior saldo, menos 92 prefeitos.
Boa parte da
migração ocorreu na Paraíba, onde os prefeitos acompanharam a mudança de
partido do governador João Azevêdo do PSB para o Cidadania. Em São Paulo, a
derrota de Márcio França (PSB) em 2018 também provocou a saída de 23 prefeitos.
Carlos
Siqueira, presidente do PSB, afirma não ver problema em perder prefeitos não
alinhados com o programa da sigla e diz que pretende recuperar o número nas
urnas neste ano.
“Quem não segue
a ideologia não faz falta. Preferimos ter menos desde que tenha uma ligação
mais orgânica com o partido. Prefiro zero a alguém que apoie Bolsonaro”,
afirma.
Para Siqueira,
o saldo positivo para o centrão se dá porque são siglas governistas,
independentemente de quem esteja no cargo, seja Dilma Rousseff (PT) ou
Bolsonaro, e os prefeitos buscam se alinhar ao governo (federal ou de seus
estados) em busca de recursos.
“Os prefeitos
migram ao sabor de quem está no poder. Quando os partidos estão na oposição,
eles perdem prefeitos”, diz.
Dentre os
partidos médios, Republicanos e Podemos estão entre os que mais cresceram,
também ancorados em uma plataforma mais conservadora. O PSL também cresceu de
30 para 53 prefeitos, a despeito da recente desfiliação do presidente
Bolsonaro.
O avanço,
contudo, pode ser considerado modesto, levando em conta que o partido será o
campeão de recursos do fundo eleitoral, com aproximadamente R$ 200 milhões para
a eleição deste ano.
Apesar do
crescimento, o PSL também perdeu prefeitos para partidos como PSD, PSB e até
para o PT —caso da cidade de Itanagra, no norte da Bahia. Filiada ao PSL desde
antes da eleição de Bolsonaro, a prefeita Dania Maria voltou ao PT, partido ao
qual já foi filiada, para disputar a reeleição.
A cientista
política e pesquisadora da FGV Lara Mesquita observa que os partidos do
centrão, que ganharam prefeitos, se preocupam em superar a cláusula de
barreira, que aumentará gradualmente até 2030 e que deve ser alcançada agora
sem coligações proporcionais.
“Estudos
mostram que existe uma correlação positiva entre o desempenho dos partidos nas
campanhas municipais e o desempenho dos partidos na eleição de deputados
federais. Partidos que cumpriram a cláusula de barreira, mas não com tanta
folga, podem estar preocupados em fazer um bom colchão, uma boa mobilização
para ajudá-los na eleição de 2022”, diz.
Não é possível
saber, no entanto, se são os partidos que buscam filiar prefeitos eleitos como
estratégia para superar a cláusula de barreira ou se os próprios prefeitos
migram espontaneamente para siglas que consideram ter mais viabilidade
eleitoral ou uma chapa melhor de vereadores, considerando que não haverá
coligação proporcional.