O
número de cidades brasileiras com mais eleitores do que habitantes cresceu 60%
desde as últimas eleições, em 2018. Atualmente, são 493 municípios nessa
situação. Há dois anos, eram 308.
Os
dados são de um levantamento feito pelo site G1 com base nas
informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
O número de
cidades com mais eleitores que habitantes cresceu 60% desde as últimas
eleições, em 2018. Atualmente, são 493 municípios nesta situação. É o que
mostra um levantamento do G1 com
base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do IBGE. Há dois anos, eram 308.
Segundo especialistas e integrantes de
tribunais regionais eleitorais, as diferenças podem ser explicadas por
defasagem nas estimativas de população, disputas territoriais, migrações e
fraudes.
O município com a maior diferença
proporcional é Severiano Melo (RN), que tem 6.482 eleitores registrados, mas
apenas 2.088 habitantes, segundo estimativa do IBGE divulgada em julho de 2020.
O número de pessoas aptas a votar na cidade, portanto, equivale a 310% da
população.
De acordo com a prefeitura, o município conta com áreas de
disputa territorial com vizinhos. São sítios e comunidades cujas pessoas se
identificam como de Severiano Melo e são atendidas pelo município, mas nos
mapas pertencem a municípios próximos, como Itaú e Apodi.
A biometria confirma essa diferença. São
6.405 com registro biométrico na cidade, quase a mesma quantidade de eleitores.
"O TSE tem os dados censitários dos
adultos e o IBGE tem uma estimativa. Por que isso pode dar diferença? Porque
nós temos um processo migratório muito intenso ainda", afirma Emerson
Cervi, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O cientista político ressalta que há uma
mudança de população da região Sul para o Norte, além das migrações que ocorrem
dentro de cada região. E essas alterações mais recentes não são captadas pelo
IBGE. "O último Censo é de 10 anos atrás. Então é uma aproximação."
Outra diferença é que o IBGE considera o
domicílio civil, onde a pessoa efetivamente mora. Já o TSE leva em conta o
domicílio eleitoral, que pode ser o lugar em que o eleitor tenha "vínculo
político, familiar, afetivo, profissional, patrimonial ou comunitário".
Ou seja, se a pessoa morava em um município e se mudou para
estudar ou trabalhar, pode continuar votando na cidade de origem. Se tem um
imóvel ou interesses comerciais em outra cidade, também.
Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de
Minas Gerais (TRE-MG), isso é mais comum em municípios pequenos, que oferecem
poucas oportunidades de emprego.
O levantamento mostra que a maior parte das cidades nessa situação é de pequeno porte: 475, ou 96% do total, têm menos de 10 mil habitantes. Dessas, 402 têm menos de 5 mil habitantes.
Um dos municípios de maior porte na lista é Cumaru (PE), que também tem o maior número absoluto de eleitores a mais que habitantes: 5.143. São 15.335 eleitores registrados e 10.192 habitantes.