Na noite desta terça-feira, 16, por volta das 22h, a Polícia Civil
de Sergipe (PC/SE) realizou uma operação no município de Santa Luzia, Sertão da
Paraíba, que culminou na morte do advogado Geffeson de Moura Gomes, de 31 anos.
De acordo com
informações fornecidas pelo delegado Sylvio Rabello, da 3ª Superintendência da
Polícia Civil da Paraíba, os policiais sergipanos estariam no Estado realizando
uma investigação de tráfico de drogas de uma quadrilha com diversas
ramificações em vários estados da Federação.
“Ele (o delegado
sergipano) disse que já estava em operação com sua equipe há vários dias nos
Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Segundo as investigações, receberam a
informação que haveria um carregamento que seria distribuído ou no estado do
Ceará ou do Rio Grande do Norte, tendo se deslocado até a cidade de Santa Luzia
onde, segundo ele, achou o local estratégico, pois fica na divisa com o Rio
Grande do Norte e no caminho para o Ceará”, disse o delegado paraibano.
E continuou:
“Montaram uma barreira policial, tendo em vista que não tinha muitas
informações da característica do veículo e nem dos condutores que estaria
trazendo essa carga de entorpecente. Em determinado momento abordaram um
veículo Peugeot, de cor vermelha, abordado pessoalmente por esse delegado, que
teria pedido ao condutor para acender a luz interna do carro, sendo informado
que a luz estaria quebrada. No instante em que se aproximou do veículo para
observar se havia mais ocupantes dentro do carro ou se via algum tipo de volume
dentro do veículo”.
O delegado Sylvio
Rabello descreve o momento em que foram realizados os disparos, seguindo a
narrativa feita pelo delegado do Denarc de Sergipe.
“Ao se aproximar
da janela, percebeu um volume metálico entre as pernas do condutor, instante em
que pediu para o mesmo colocar as mãos para fora do veículo, o que não foi
obedecido. Em vez de obedecer a ordem do policial, o delegado percebeu que ele
fez um movimento em direção às pernas, instante em que o delegado efetuou
disparos de arma de fogo contra a vítima”, contou a autoridade policial da
Paraíba.
Ainda segundo as
informações do delegado paraibano, a equipe da Polícia Civil de Sergipe
socorreu a vítima e levou até o hospital de Santa Luzia, mas por lá os
atendentes atestaram que ele já havia morrido. O delegado apresentou a sua arma
de fogo e a arma de fogo da vítima, duas pistolas calibre .40. Esse material
foi apreendido e as duas armas foram enviadas para a perícia. Na perícia do
veículo foram localizados dois projéteis de arma de fogo e uma cápsula, que
serão matéria de confronto balístico.
Para o tio do
advogado morto, Geraldo Quirino, que falou com exclusividade ao Portal
Fan F1, essa versão de que ele estaria armado não é verdadeira.
“Pela versão da polícia sergipana de que ele teria resistido à abordagem, isso
não corresponde com a realidade, visto que o meu sobrinho é bacharel em
Direito, trabalha no meu escritório em João Pessoa, e nunca ofendeu a uma mosca
sequer. Era um rapaz pacato que nunca andou armado e não possuía arma. Essa é
uma versão que a gente não aceita em hipótese alguma”, garante Geraldo.
Ele questiona o motivo de as autoridades policiais da Paraíba não
terem ciência de que a polícia sergipana estava por lá. “O carro que ele estava
está cheio de sangue no banco, mostra que ele foi morto dentro do carro. Esse
pessoal de Sergipe que eu nem sei se são policiais, se estavam no Estado da
Paraíba estavam de forma irregular, porque as autoridades policiais da Paraíba
não sabiam que eles estavam aqui em operação”.
Sobre o socorro
prestado a Geffeson de Moura, ele aponta como irresponsabilidade tamanha. “Meu
sobrinho foi levado para o hospital já sem vida, porque os assassinos pegaram o
corpo do meu sobrinho e jogaram num hospital que não tinha nada a ver com
socorro de vítima de tiro. Eles jogaram meu sobrinho na calçada de um hospital
maternidade. É de uma irresponsabilidade tamanha. Acredito que isso foi uma
coisa premeditada, essa história de dizer que foi feita abordagem e houve
resistência, para nós aqui está descartada. Foi uma grande irresponsabilidade
tanto de quem atirou no meu sobrinho, como também do delegado da Paraíba que
aceitou essa versão”, ressaltou o tio.
O familiar faz
questionamentos que só podem ser respondidos pelas autoridades policiais de seu
estado. “O Estado da Paraíba e o de Sergipe têm por obrigação de explicar como
foi que aconteceu essa tragédia aqui. Primeiro, nós não temos nenhuma garantia
de que eles estavam aqui no Estado da Paraíba a serviço, nem o tipo de
operação, então essa jurisdição está furada. Segundo, porque foi um assassinato
brutal, sete tiros, inclusive tiro na boca do meu sobrinho. Fica o nosso
protesto, indignação com um crime de tamanha brutalidade”.
Por fim, Geraldo
Quirino questiona o que classifica como falta de preparo e execução sumária. “O
mais completo despreparo, aliás, não é nem despreparo, é violência mesmo. É
violência armada por dentro das hostes do Estado. Nós não podemos num tempo
deste admitir que aconteça mais isso com o povo do nosso Brasil. Despreparo é
quando há uma abordagem mal feita, desnecessária, uma condução que não se faz
necessária ou coisa assim. Mas, neste caso aí, trata-se de uma execução
sumária. O governador do Estado e a Corregedoria do Estado da Paraíba já estão
acionados para explicar esse caso e é o que nós esperamos”, finaliza o tio da
vítima.
NOTA DA POLÍCIA CIVIL DE SERGIPE
Em nota, a
Polícia Civil de Sergipe informou que foi deflagrada uma operação no final da
noite desta terça-feira, 16, na cidade de Santa Luzia, sertão da Paraíba, pelo
Departamento de Narcóticos (Denarc) a fim de tentar prender um grupo envolvido
com tráfico interestadual de drogas. Os policiais estavam há alguns dias em
diversas partes do Nordeste do país monitorando a quadrilha com o intuito de
cumprir mandados de prisão, expedidos pela Justiça de Sergipe.
Na altura da
cidade de Santa Luzia, na Paraíba, no final da noite desta terça, foi montado
um bloqueio policial, onde vários veículos suspeitos foram parados. Os
policiais se depararam com um homem em um veículo e na abordagem, o motorista
identificado como Geffeson de Moura Gomes estava armado, esboçou uma reação e
foi atingido, sendo encaminhado imediatamente para uma unidade hospitalar.
O veículo e a
arma de fogo foram apreendidos e apresentados pelos policiais na Delegacia
Plantonista da cidade de Patos/PB. Os policiais prestaram depoimento ao
delegado plantonista e apresentaram a arma e o carro apreendidos. Também foi
colocado à disposição da Perícia Criminal e da Polícia Civil da Paraíba as armas
de fogo utilizadas pelos policiais civis sergipanos durante a ação.
A Polícia Civil
de Sergipe disponibiliza desde as primeiras horas do desfecho da ocorrência
todas as informações necessárias às autoridades paraibanas. Os relatos
prestados pelos policiais civis sergipanos constam em inquérito policial que já
foi instaurado para apurar a ocorrência. A perícia também foi acionada para
realizar os exames nas armas de fogo e veículo.