Aos 39 anos, o imunologista Gustavo Cabral de
Miranda é coordenador de uma das pesquisas para desenvolver uma vacina brasileira
contra a Covid. Mas a estrada até onde ele chegou foi tortuosa e cheia de
desafios. Ao programa Globo Repórter, o pesquisador contou a história de
superação e de resiliência de sua vida. Nascido no povoado Creguenhem, no
município de Tucano, a 83 km de Serrinha, ele travou uma guerra contra a
pobreza para conseguir chegar até a universidade.
"Minha compreensão de morar em Creguenhem
era ir para roça, ir para escola por obrigação. Não tem a cultura de qual a
importância do estudo. Aos 7 anos, eu estava vendendo geladinho. Sempre fui
muito hábil para sobreviver. Uma parte eu ajudava em casa, uma parte tirava e
juntava, tirava e comprava uma galinha. Vendi as galinhas, comprei um porco.
Depois vendi os porcos, comprei uma vaca", relembra.
Terceiro de quatro irmãos, Gustavo saiu de casa
aos 15 anos e foi trabalhar em um açougue em Euclides da Cunha. Ganhou
dinheiro, mas aos 20 decidiu retornar para a casa dos pais e voltar a estudar,
quando passou a observar "as pessoas estudadas" e o que elas tinham.
Ele fez faculdade na Uneb, em Senhor do Bonfim, depois mestrado em Salvador,
doutorado na USP (São Paulo) e não parou mais. Já viajou como PHD para
Portugal, Inglaterra e Suíça.
"A gente não veio ao mundo perder a viagem.
É muito trabalho para vir para cá. A gente tem que fazer alguma coisa que faz
diferença nisso daqui. Minha personalidade não me permite baixar a cabeça. Vou
dormir hoje chorando mas no dia seguinte amanheço como um leão. Eu tenho que ir
para guerra", afirma.