Na Bahia, a BR-116 é conhecida pelo
tráfego intenso de caminhões. Já na BR-101, o fluxo é bem maior com os veículos
de passeio. Mas nos trechos dessas duas rodovias federais que cortam o estado
circulam mais do que uma simples carga ou viajantes comuns. Elas são os acessos
mais importantes para a entrada das armas que chegam às facções baianas e
também colocam o estado como a principal rota do contrabando de armas nas
regiões Norte e Nordeste do país.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), no ano
passado, só de pistolas, foram 5.918 unidades apreendidas. Parte das armas que
chegam à Bahia cruza a BR-116, que corta mais a região do semiárido, e a
BR-101, no litoral do estado. “As apreensões nessas duas rodovias somam
mais da metade das ocorrências da PRF. O volume de apreensão na Bahia supera
outros estados que também são rotas do contrabando, como Goiás e Tocantins, de
grande extensão territorial”, declarou o chefe do Comando de
Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Bahia, o inspetor
Jader Ribeiro.
Ele disse ainda que essas armas são enviadas à Bahia
pelas duas maiores organizações criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital
(PCC) e o Comando Vermelho (CV), para alimentar a disputa entre as facções
baianas. São fuzis, granadas e pistolas com mira laser. Desde o início do ano
passado, o CV vem alimentando belicamente sua filial na Bahia, o Comando da
Paz, para fazer frente à arquirrival Bonde do Maluco (BDM), ligada ao PCC.
“Nos dois últimos anos, colocamos equipes
exclusivas para combater esse tipo de crime, além do uso de operações temáticas
em períodos especiais, as abordagens rotineiras e o estreitamento com outras
forças de segurança, como a Polícia Civil e a Polícia Federal”,
declarou o chefe do Comando de Operações Especiais da PRF no estado.
As BRs 116 e 101 seguem o sentido sul-norte e norte-
sul e são mais bem estruturadas. Por isso, têm melhores condições de tráfego.
Além disso, ligam municípios importantes. “A BR-101 corta cidades como Itabuna,
Eunápolis e dá acesso à Porto Seguro. A BR-116 corta a cidade de Vitória da
Conquista, Jequié, Feira de Santana, cidades mais importantes economicamente e
onde essas armas são distribuídas”, disse o inspetor.
As armas contrabandeadas trazidas a Salvador trafegam
antes pelas BRs 101 ou 116 para depois chegar à BR-324, que liga Salvador a
Feira de Santana. “Tem outros desvios que podem ser feitos por rodovias
estaduais, mas para acessar a BR-324, tem que passar pela 101 ou 116 quase que
obrigatoriamente”, pontuou Ribeiro.
Quem sai de São Paulo e do Rio de Janeiro e quer
chegar até Recife e Fortaleza e em outros estados do Nordeste, tem que passar
pela Bahia, pois, devido a sua extensão, dá acesso dos estados da região para o
sul do país. E é por isso que a BR-101 e BR-116 são também rota do tráfico
internacional para abastecer outros estados que compõem o Nordeste. A Bahia faz
divisa com os estados de Pernambuco e Piauí, ao norte; com o Tocantins, a
oeste; com Goiás, a sudeste; Minas Gerais, ao sul; Espírito Santo, a sudeste; e
Sergipe e Alagoas, a nordeste.
“Os criminosos que vêm do Rio de Janeiro,
São Paulo, que são os grandes mercados distribuidores tanto de armas quanto de
drogas, eles têm que rodar pela Bahia, por isso que em algumas apreensões que
são feitas aqui no estado tem o destino final das mercadorias Recife,
Fortaleza, Natal”, explicou Ribeiro. Pela Bahia também são enviadas
armas para a região Norte do país. Entre o Pará, que é o segundo maior estado
da região, e o Sudeste, muitos veículos passam pelas rodovias baianas.