O
prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB),
morreu neste domingo (16), aos 41 anos, vítima de câncer.
Desde 2019, Covas enfrentava a doença, inicialmente descoberta no trato
digestivo, mas que se espalhou para o fígado e para os ossos. A notícia da
morte foi confirmada em nota divulgada pela assessoria do prefeito.
O prefeito, que era divorciado, deixa um filho, Tomás
Covas, de 15 anos.
Bruno Covas tornou-se prefeito de São Paulo em 2018,
após a renúncia de João Doria (PSDB), de quem era vice. Em 2020, foi reeleito
no segundo turno com 3.169.121 votos, o equivalente a 59,38% dos votos válidos.
O atual vice-prefeito, Ricardo Nunes (MDB),
deverá assumir o comando da cidade.
Covas já estava licenciado do cargo desde o início de
maio, quando houve piora do quadro. Nunes assumiu como prefeito em exercício em
3 de maio.
Câncer
Em outubro de 2019, Covas descobriu ter um câncer
ao ser internado no hospital Sírio-Libanês para tratar inicialmente uma
erisipela nas pernas, que, mais tarde, revelou-se uma trombose venosa.
Em outra bateria de exames foi constatado, além do tromboembolismo pulmonar, um
tumor maligno no trato digestivo com metástase no fígado. O prefeito foi
submetido a diversas sessões de quimioterapia e as encerrou em fevereiro deste
ano.
Com boa evolução médica, os tumores de Covas
chegaram a desaparecer dias após o encerramento da última sessão de
quimioterapia. De acordo com os médicos, o político teve “uma reação
excepcional” ao tratamento. Uma biópsia para analisar os linfonodos localizados
ao lado do fígado, que também apresentava lesões, foi solicitada na época para
confirmar o desaparecimento.
Durante o período de tratamento, o prefeito não se afastou do cargo e despachou
com auxiliares no próprio hospital.
Em abril de 2021, já como prefeito reeleito de São
Paulo, médicos descobriram novos pontos de câncer em Covas, sendo que o fígado
e os ossos foram atingidos. O tucano foi então submetido a novo tratamento
quimioterápico e também à imunoterapia. Dias depois, a equipe médica
responsável pelo tratamento do prefeito informou que Covas apresentou acúmulo
de líquidos nos pulmões e no fígado.
Formação política
O santista Bruno Covas não passou um ano sequer de
sua vida sem que a política estivesse presente em sua casa. Quando nasceu em
1980, seu avô, o ex-governador Mário Covas (PSDB), naquela época deputado
federal, era uma das principais lideranças do então MDB, único partido de
oposição à Ditadura Militar.
Desde então, o sobrenome que inaugurou em 1995 uma
sequência de governos tucanos que dura até hoje no estado de São Paulo nunca
mais o abandonou. Apesar do envolvimento precoce com a política — aos oito anos
participava do “Clube dos Tucaninhos” e, aos 18, filiou-se ao PSDB — o epíteto
“neto de Covas” seguiu Bruno mesmo quando ele já era parlamentar.
Sua posse como prefeito de São Paulo, cargo que o avô também ocupou entre 1983 e 1985, ficou cada vez mais óbvia na medida em que João Doria projetava voos mais altos após assumir o Executivo municipal em 2017.
Indicado para a disputa municipal em um ruidoso
processo de prévias internas, Doria não contou com o apoio de Bruno em um
primeiro momento, mas tinha como fiador o então governador Geraldo Alckmin
(PSDB), mais bem-sucedido herdeiro do espólio eleitoral de Mário Covas, vítima
de câncer em 2001, de quem Alckmin foi vice.
A escolha de Bruno Covas para compor a chapa foi
vista como um gesto de pacificação por parte de Doria, que era visto
internamente como um estranho no ninho.
Depois de pouco mais de um ano de mandato, Doria
renunciou ao cargo para concorrer ao governo estadual, em um processo que
deixou fissuras no PSDB paulista, incluindo a saída do partido de Mário Covas
Neto, tio de Bruno e filho do ex-governador, hoje no Podemos.
Incentivado pelo prefeito Doria, Bruno Covas passou
por uma mudança que incluiu a perda de 15 quilos, a adoção de uma rotina de
exercícios físicos e de um estilo mais despojado. De cabelos raspados e usando
barba, ele ainda dispensou o paletó e a gravata — uma imagem mais adequada para
um jovem potencial candidato à reeleição.
Bruno Covas nunca fez muito esforço para negar o
apelido de “baladeiro”: seu aniversário de 38 anos, já à frente do Executivo,
foi comemorado no Villa Country, movimentada casa sertaneja da Barra Funda,
bairro da Zona Oeste onde o prefeito morava. Nas redes sociais, o tucano
compartilhava fotos de corridas no Ibirapuera, jogos do Santos ao lado do filho
Tomás e, claro, homenagens ao avô.
Adepto de uma rotina de exercícios, Bruno Covas
chegou a aprovar a instalação de uma academia no terceiro andar da sede da
prefeitura de São Paulo, a que todos os servidores têm acesso fora do horário
de expediente. O prefeito, entretanto, não chegou a usar o espaço.
Após assumir, Bruno Covas fez questão de pontuar
diferenças de seu estilo ao de João Doria, que tinha como um de seus slogans se
definir como gestor, não político. Apoiado na força do sobrenome, Bruno, ao
contrário, alardeava suas origens, seu currículo e sua capacidade de articulação.
Carreira
A relação com Mário Covas não se resumia à política.
Quando criança, Bruno acompanhava o então senador em eventos e viagens a
Brasília. Aos 15, foi morar no Palácio dos Bandeirantes com o recém-eleito
governador, onde permaneceu até a morte do avô.
Neste período morando na residência oficial do
governo de São Paulo, Bruno Covas formou-se em Direito pela Universidade de São
Paulo (USP), em 2002, e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP), em 2005. Além da formação acadêmica, o outro pé na política
era mantido com a presidência da Juventude Tucana, que ocupou até 2011.
Em suas redes sociais, Bruno demonstrava
frequentemente a sua relação com o avô. “06.03.01 foi um dos dias mais tristes
da minha vida. Perdi meu avô, minha referência. Divido com todos a
responsabilidade de levar adiante o seu legado”, escreveu o neto ao relembrar
foto de sua infância com o ex-governador.
A primeira incursão eleitoral se deu em 2004, quando
Bruno Covas tinha 24 anos e foi candidato a vice-prefeito de sua cidade natal
em uma chapa encabeçada por Raul Christiano — que não se elegeu. No ano
seguinte, tornou-se assessor da liderança do PSDB na Assembleia Legislativa de
São Paulo (Alesp), onde, contou à revista Piauí, decorou o regimento interno e
tornou-se referência para os parlamentares.
Bruno Covas passou a dar expediente na Alesp como
deputado estadual depois de ser eleito em 2006 com 122 mil votos. Em 2010,
praticamente dobrou sua preferência entre os eleitores (239 mil votos) e
reelegeu-se como o candidato mais votado para o cargo no estado naquele ano.
O tucano, entretanto, afastou-se de seu segundo
mandato na assembleia estadual para assumir a secretaria do Meio Ambiente do
estado na gestão de Geraldo Alckmin. No Executivo estadual, Bruno chegou a
ensaiar uma candidatura à prefeitura da capital para as eleições municipais de
2012 e transferiu seu título de Santos para São Paulo.
Com sua pré-candidatura anunciada (José Serra
acabaria sendo o indicado do partido para o pleito de 2012), Bruno Covas
envolveu-se em uma polêmica ao contar, em uma entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo, ter recusado uma oferta de propina de um
prefeito por ter aprovado uma emenda parlamentar. Convidado pela oposição a
prestar esclarecimentos na Comissão de Ética, disse ter sido mal interpretado e
que a questão se resumiu a um exemplo hipotético do que era correto a ser
feito.
Eleito deputado federal em 2014 com 352.708 votos,
Bruno Covas teve uma breve passagem pela Câmara Federal, em Brasília, já que em
2016 foi eleito vice-prefeito na chapa de João Doria, que superou, em primeiro
turno, o então prefeito petista Fernando Haddad, em uma eleição marcada pelos
efeitos do impeachment de Dilma Rousseff (PT) — pelo qual Bruno votou a favor
enquanto parlamentar.
Já na prefeitura, acumulou o cargo de secretário das
Prefeituras Regionais, mas depois foi realocado para a Casa Civil após mudanças
promovidas por João Doria. Após 15 meses de trabalho, o então prefeito deixou o
cargo para disputar candidatura pelo governo do Estado de São Paulo nas
eleições de 2018. Covas assumiu a cadeira em seguida, com intuito de concluir o
governo de seu antecessor.
Reeleição
A pandemia da Covid-19 mudou de forma significativa a
perspectiva para as eleições municipais de 2020. Governadores e prefeitos, como
Covas, ganharam projeção diária nos veículos de imprensa com as medidas
adotadas para conter a propagação do novo coronavírus.
O prefeito articulou a sua candidatura à reeleição
pelo PSDB centrado no discurso de que a cidade deveria apostar na manutenção da
administração como melhor estratégia para a contenção da pandemia.
Conseguiu transformar a ampla base na Câmara
Municipal em chapa para a disputa eleitoral. Empresário e vereador em segundo
mandato, um dos mais influentes do legislativo paulistano, Ricardo Nunes (MDB)
foi convertido em candidato a vice-prefeito e defendido por Covas mesmo diante
de retomadas antigas acusações de violência doméstica por parte do emedebista,
que nega.
Bruno Covas ainda ressuscitou uma antiga e
controversa aliança do avô. Em 1998, quando Mário Covas enfrentou Paulo Maluf
no segundo turno da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, buscou e obteve o
apoio do PT para derrotá-lo. Uma mão lavou a outra em 2000, quando Alckmin
ficou fora do segundo turno para a Prefeitura e Covas endossou a vitória de
Marta Suplicy (PT) contra o mesmo Maluf.
Já fora do PT, Marta se aproximou de Bruno Covas e se
engajou em sua campanha, divulgando o prefeito em regiões onde segue popular,
sobretudo na Zona Leste da cidade. Com Covas reeleito, a ex-prefeita se tornou
secretária municipal de Relações Internacionais da capital paulista.