Em entrevista à CNN na última
quinta-feira (17), o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que, apesar
de acreditar em uma "terceira via" para a corrida para o Palácio do
Planalto em 2022, o candidato deve ser o "melhor posicionado para vencer
as eleições", e não necessariamente um nome do PSDB.
Com isso, o ex-presidenciável criticou uma possível
candidatura para a presidência em 2022 de João Doria, governador de São Paulo, nome
que para ele pode levar o partido "ao isolamento" caso seja, de fato,
a escolha da sigla para a corrida eleitoral.
Adversário do Partido dos Trabalhadores em 2014 e agora
contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Aécio defendeu que a "terceira via"
una todos os partidos que não estão posicionados no atual espectro político da
polarização.
"Temos que lutar muito por uma
candidatura de terceira via para impedir que essa eleição seja decidida pelo
'voto não: eu não quero Lula, eu voto no Bolsonaro; eu não quero Bolsonaro, eu
voto Lula.' É muito pouco, é muito pobre", disse. "Adoraria ter um
candidato do PSDB, mas se o candidato em melhor condições estiver fora do
partido, temos que ter o desprendimento, a generosidade e o patriotismo de
apoiar essa candidatura,” disse Aécio.
Para ele, a insistência em Doria como nome possível
do partido fará com que o projeto nacional se submeta a uma lógica
regional. "Tenho feito uma oposição a uma candidatura interna que nos
levaria ao isolamento absoluto, que é a candidatura do governador de São
Paulo", disse.
"Doria perdeu as condições a reeleição em São
Paulo e quer construir um palanque para o vice-governador, um homem correto, de
bem, em São Paulo. O preço disso é muito alto. Pode ser o desfacelamento do
PSDB inclusive no futuro".
Aécio apontou à jornalista Daniela Lima que os nomes
do governador gaúcho Eduardo Leite e
do senador Tasso Jereissati (CE) teriam condições de "agregar para
fora", ou seja, chamar aliados para compor uma chapa com um nome forte dos
tucanos. A possibilidade de uma construção do gênero com Doria, para ele, é
inviável e faria com que o partido perdesse relevância no futuro.
"Eu não quero que o PSDB se transforme em um
partido nanico nas próximas eleições. Podemos até não vencer nessas eleições
presidenciais, mas eu acredito muito que após a radicalização que está aí
colocada, o PSDB reaparecerá como o partido da reinstitucionalização da
política, capaz de agregar outras forças ao centro e constuir um processo do
planejamento, eficiência, resultados necessários de um governo de centro",
analisou.
Impeachment de Bolsonaro
Questionado sobre a viabilidade de um processo de
impeachment de Bolsonaro, Aécio diz esperar o término da CPI da Pandemia para
então começar a pensar no assunto, mas ponderou ser preciso comprovação de
crime de responsabilidade e mobilização popular para que o processo ganhe
tração.
“Nós temos uma comissão que está investigando para
que, no final da comissão, possa haver a compreensão do que ocorreu. Há dois
ingredientes que precisam se encontrar para o afastamento do presidente da
República. O crime de responsabilidade, claramente apontado, e mobilização
popular. Acho que após o trabalho da CPI é que essa análise será feita.”
Voto impresso
O deputado também disse não haver indícios de
fraude nas eleições presidenciais de 2014, quando ele disputou e perdeu, no
segundo turno, para a então presidente Dilma Rousseff (PT). O resultado foi
contestado na época e os votos foram auditados pelo PSDB, que não encontrou
provas de irregularidades.
O assunto voltou à tona após declarações do
presidente Jair Bolsonaro de que as eleições de 2014 e de 2018 teriam sido
fraudadas, sem apresentar provas. Bolsonaro também tem insistido na votação
da PEC do Voto Impresso como
condição para o pleito, o que "interditou" os debates sobre o tema,
na visão de Aécio.
"Não dá para mexer nisso até 2022. A discussão
ficou interditada pela forma que Bolsonaro se coloca, mas não adianta achar que
elas são perfeitas enquanto 60% da população têm dúvidas sobre o sistema",
afirmou.
“Não tenho nenhum indício que aponte para fraudes naquela eleição. Os crimes ali cometidos foram de outra ordem. Era sobre a utilização sem limites da máquina pública, as fake news, o disparo ilegal de ‘zaps’ dando conta de que, eu eleito, terminaria com todos os programas sociais do governo, a utilização da Caixa, Correios, Banco do Brasil”, disse o deputado.