O modelo de grandes propriedades agrícolas
mecanizadas favorece a concentração de renda - um dos principais problemas do
Brasil -, enquanto também acaba movimentando a economia local, gerando
empregos.
"A agricultura hoje proporciona salários bons, isso começa a se divulgar,
e buscam a região para trabalho", avalia Franciosi, que tem fazendas e
concessionárias de maquinário agrícola.
Um dos pioneiros da região na década de 1980, o
presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Carlos
Bergamaschi, atribui o desenvolvimento do agro a um processo de adaptação e
investimento em tecnologia para elevar produtividade:
"As pessoas se adaptaram, e com a natureza
você não duela, você vive em harmonia. Usamos muita tecnologia, porque é o que
salva, é como otimizamos a agricultura", afirma. Por outro lado, o
diretor-presidente do Grupo Sertaneja, Antônio Balbino de Carvalho Neto, opina
que a desigualdade está aumentando.
À frente de um grupo de empresas em setores
diferentes, da pecuária aos imóveis, ele observa um movimento de venda de
terrenos e imóveis por pessoas que perderam renda na pandemia e não tinham
reservas.
Já Arthur Bragança, coordenador de Avaliação de
Política Pública, Agricultura Sustentável e Infraestrutura da Climate Policy
Iniciative (CPI), afirma que a produção, principalmente de soja, é o motor do
desenvolvimento na região, gerando a expansão do PIB do setor de serviços.
Contudo, pondera que distribuir essa riqueza é um desafio.
"A grande dificuldade é transformar a riqueza
da soja, em que os produtores são capitalizados, e criar um desenvolvimento
local mais amplo. Nas localidades que se beneficiam da expansão da soja não há
observação de melhoria de indicadores educacionais e de saneamento, por
exemplo", destaca.
Infraestrutura
A reportagem salienta que, pesar de todo o dinheiro
que o agronegócio trouxe para o Oeste da Bahia, essa riqueza não é observada na
mesma proporção nas cidades da região e ainda existem muitos "gargalos de
infraestrutura" em comparação com outras "bolhas de prosperidade"
do agronegócio no Brasil.
Alguns dos problemas mais relatados pelos
produtores dizem respeito a qualidade das estradas, bem como dos sinais de
telefonia e internet ruins, além de deficiências na distribuição de energia
elétrica.
Eles têm se unido para promover obras de
melhoramento por conta própria, e o presidente da Associação Baiana dos
Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Carlos Bergamaschi, avalia que esta vem
sendo a saída para suprir carências logísticas para escoar a produção.
A principal iniciativa do grupo é a abertura e
pavimentação de estradas vicinais. Já foram 140 quilômetros bancados por eles e
há mais 700 quilômetros nos planos, mas a região tem sete mil quilômetros de
vias precárias.
Agora, 27 quilômetros receberão asfalto na chamada
rodovia São Sebastião, que dá acesso a fazendas que produzem 150 mil toneladas
de grãos e fibras por ano.
Procurada pela reportagem para comentar o assunto,
o governo da Bahia, por meio de nota, afirmou que há um processo de licitação
em curso para a recuperação de mais de 330 quilômetros de rodovias estaduais no
oeste baiano.
Já esses serviços nas estradas vicinais contam com
a participação indireta do estado, que renunciou ao ICMS sobre produtos
agrícolas industrializados, argumentou o governo.
Em vez de recolher o tributo por meio da secretaria
de Fazenda, os recursos são dirigidos ao Prodeagro, um fundo “criado para
realizar benfeitorias nas áreas de infraestrutura e pesquisa agropecuária, com
vistas à melhoria da produtividade”. A distribuição de energia elétrica, por
sua vez, registras quedas constantes por não suportar a alta demanda.
A ampliação das redes de distribuição depende de
obras do estado. Sem elas, produtores estão investindo em energia solar
fotovoltaica, que supre parte do consumo das propriedades.
Sobre a questão, a secretaria de Infraestrutura da
Bahia diz que a rede básica está em expansão, com início de operação de linhas
de transmissão e leilões para construção de mais linhas e estudos junto à
Empresa de Pesquisa Energética para expansão do sistema no Matopiba.
Já moradores da zona rural reclamam que, além dos
problemas compartilhados com os produtores, precisam conviver com a necessidade
de percorrer grandes distâncias para ter acesso a serviços básicos.
O jornal cita como exemplo o distrito de Roda
Velha, que abarca a maior parte das fazendas de São Desidério. Embora seja o
que mais contribui para o PIB agrícola da região, é descrito no texto como um
lugar que parece ter sido esquecido no tempo.
Cerca de 8,5 mil pessoas vivem em Roda Velha e esta
população, para realizar exames médicos e ir ao hospital, por exemplo,
precisa ir até a sede do município de São Desidério, a 130 quilômetros. Também
precisam se deslocar até lá para ir ao banco, o que prejudica o comércio local.
Há empregos, mas faltam profissionais preparados para ocupar as vagas.
"O benefício desse dinheiro do agronegócio
aqui é pouco. A renda vai para lá [a sede do município], e aqui não tem
investimento, nem emprego", queixa-se a vendedora Maria Luciana Reis, de
33 anos.