O prefeito reeleito de Jeremoabo, Deri do Paloma (PP), no norte
baiano, foi denunciado à Justiça Eleitoral por ter falsificado exames de
Covid-19 à época da campanha, a fim de impedir que eleitores da candidata
adversária comparecessem às sessões eleitorais para a votação.
De autoria da bancada oposicionista na Câmara Municipal, a ação
pede que o atual gestor tenha o mandato cassado por abuso de poder político e
econômico e fique inelegível por oito anos. Sete meses após a denúncia, no
entanto, o processo segue parado na Justiça Eleitoral.
Ao menos dez moradores do bairro Vilas de Brotas tiveram
diagnósticos positivos em testes realizados pela gestão municipal por
determinação do candidato à reeleição, mas as contraprovas indicaram
diagnósticos negativos. Esta é apenas uma das denúncias relacionadas em uma
ação de investigação judicial eleitoral apresentada em dezembro de 2020.
Moradores relataram na ação que profissionais da Saúde fizeram
busca ativa na região indicando que haveria um surto de Covid-19 no local,
embora a população estivesse assintomática. Os resultados dos testes rápidos
foram manipulados pela secretaria municipal da Saúde, que recomendou aos
moradores quarentena de 14 dias, justamente no período da eleição municipal de
2020. Os moradores se submeteram a testes em clínicas particulares e tiveram
resultado negativo.
A eleição em Jeremoabo foi decidida por uma diferença de 159
votos. "Temos certeza que esta mesma prática foi adotada em outros locais
da cidade, mas os moradores ficaram com medo de denunciar. O dinheiro para
combate à Covid foi utilizado para fins eleitorais", acredita a bancada da
oposição na Câmara Municipal de Jeremoabo.
Entre os integrantes do grupo estão o presidente do Legislativo,
vereador Carlos Henrique Dantas Oliveira (PSD), e os vereadores Antônio Chaves,
Domingos Pinto, Manoel José de Souza Gama, José Raimundo Reis, Benedito
Oliveira e Sidney dos Reis Macedo.
A realização direcionada de exames de Covid-19 em Vilas de
Brotas, diz a ação, vai na contramão da adoção de medidas de combate à pandemia
na cidade de poucos mais de 40 mil habitantes. "Nenhuma cidade dispunha de
testes suficientes, mas a administração municipal de Jeremoabo direcionou a
aplicação de exames em reduto eleitoral da candidata adversária", ressalta
a bancada oposicionista.
Incentivos
Fiscais
Ainda durante a campanha eleitoral, Deri do Paloma anunciou que
a empresa de laticínios Natville seria instalada em Jeremoabo. Com a suposta
chegada da fábrica ao município veio a promessa de campanha de geração de
quatro mil empregos.
A notícia foi bem recebida pela população jeremoabense. No
entanto, passados oito meses da campanha eleitoral a cidade segue sem qualquer
previsão de ver a indústria em operação. "Não há qualquer sinal de obra no
terreno onde a fábrica deveria ser instalada, apesar de ter sido prometido que
o grupo começaria a funcionar na cidade ainda em 2021", explicam os
vereadores.
A promessa é vista como o menor dos problemas. Para viabilizar a
instalação da Natville, o prefeito e candidato à reeleição concedeu incentivos
fiscais, prática vedada pela Justiça Eleitoral durante a campanha. Os moradores
cobram a implantação da empresa. "A cidade ficou frustrada. Quem não
ficaria empolgado em votar em um candidato que prometeu trazer tantos empregos
para a cidade? Foram todos enganados", expõem.
Currículos de interessados foram direcionados ao então
vice-prefeito Lula de Dalvino (DEM), que ficou responsável por coletar dados
apenas de potenciais eleitores de Deri do Paloma. Após deixar o mandato de
vice-prefeito, Lula tornou-se representante da Natville e não viabilizou a
geração de um emprego sequer.
Compra
de votos
Materiais de construção comprados pela prefeitura para a
construção de uma academia de saúde e da Praça Almiro Ramos, no bairro José Nolasco,
foram desviados por Deri do Paloma e doados a eleitores para que concluíssem
obras em residências particulares, à época da campanha. "É uma prática
antiga, né? Em troca, a pessoa teria que votar nele na eleição", denunciam
os edis.
"A gente chegou, inclusive, a ver funcionários da
prefeitura transportando cimento pronto para rebocar a casa de moradores. Até a
imprensa chegou a ser agredida por tentar denunciar a irregularidade",
completam.
Em um dos casos, um morador recebeu um recibo informando que teria direito a uma caixa d'água paga pela prefeitura. Ao tentar fazer a retirada após a eleição, o homem que teria sido beneficiado foi informado de que não poderia retirar o produto porque não votou em Deri do Paloma.