Tosse, febre, mal-estar e dor de garganta. A recomendação é clara para quem apresenta esses sintomas: testagem e isolamento. Com 19.995 casos ativos na Bahia, segundo o último boletim divulgado na segunda-feira (24) pela Secretaria de Saúde (Sesab), muitos profissionais estão afastados do trabalho. As baixas atingem setores diversos e, em alguns casos, trazem transtorno à população.
No setor
bancário, 30% dos funcionários do estado foram afastados em janeiro por
causa da contaminação por covid-19, o que representa 5.100 pessoas. Na
terça-feira (25), dez agências estavam fechadas devido aos surtos, sendo nove
delas na capital e uma em Itapetinga. Só neste mês, mais de 50 agências
fecharam as portas temporariamente pelo mesmo motivo.
“Com esse
alto número de funcionários afastados, aumenta a sobrecarga de trabalho e as
dificuldades de atendimento à população, tendo em vista que as pessoas recorrem
para outras unidades, impactando em mais filas, estresse e adoecimento
ocupacional”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários Augusto
Vasconcelos.
Os bancos
não exigem comprovante de vacinação, mas o presidente do sindicato apresentou
um projeto na Câmara de Vereadores de Salvador em dezembro do ano passado, que
prevê a necessidade do passaporte vacinal para conter o avanço da disseminação
da doença.
“Se nosso projeto for aprovado,
será obrigatória a vacinação dos funcionários e clientes para entrar nas
agências. Exceto na hipótese de o cidadão ter um atestado de saúde que impeça
de tomar a vacina”, explica Vasconcelos. O projeto deve ser votado na retomada
das sessões da câmara em fevereiro.
Saúde
Entre os
profissionais de saúde, a contaminação também avança. Entre o primeiro dia do
ano e o dia 25 de janeiro, 2.610 profissionais da área tiveram covid-19 no
estado, segundo dados da Sesab. Os mais afetados são os auxiliares e técnicos
de enfermagem, que já acumulam 15.855 infectados ao longo de 2021 e 2022. Os
médicos ocupam o segundo lugar com 4.801 contaminados na Bahia. Só na
segunda-feira (24), 142 trabalhadores da saúde testaram positivo para a covid-19,
de acordo com a Sesab.
No total,
55.303 profissionais já se infectaram com a covid-19. Um médico que trabalha no
setor de urgência em um hospital em Jequié, no centro-sul do estado, começou a
apresentar sintomas da doença na primeira semana de janeiro. Ele conta que como
possui vínculo jurídico com o hospital e não é regido pelas normas da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), só poderia faltar ao trabalho caso
conseguisse outro profissional para cobrir seus plantões.
“Tentei passar
os plantões para outros colegas, mas não consegui. Tive que trabalhar doente,
mas mantendo os cuidados”, relata. Para piorar o cenário, ele conta que na
época não havia testes disponíveis na cidade. Mas sintomas como falta de
olfato e paladar o fazem acreditar que foi realmente contaminação pelo
coronavírus.
A presidente do
Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado da Bahia (Sindsaúde), Ivanilde
Brito, afirma que o cenário de profissionais afastados está exigindo
remanejamentos.
“Alguns setores
estão tendo dificuldades, mas está havendo remanejamentos para que os serviços
essenciais continuem funcionando. Temos que ter jogo de cintura”, afirma a
presidente. Segundo Ivanilde, o Hospital Geral do Estado (HGE) chamou
funcionários que estavam de férias para cobrir a falta dos colegas que estão
afastados pela covid-19.
O Hospital
Aristides Maltez, em Salvador, também sente os impactos das baixas. Na
segunda-feira (24), os atendimentos da triagem, ambulatórios gerais e cirurgias
eletivas foram suspensos, após 176 funcionários da equipe médica terem
resultado positivo para a covid-19. O número representa 10% da equipe.
Cirurgias de urgência e emergência, funcionamento de Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) e tratamentos de radio e quimioterapia estão mantidos.
“A cidade está
cheia de turistas, o que é bom para a economia, mas não temos os devidos
cuidados que deveríamos ter. A covid não acabou, estamos tendo um retrocesso
novamente”, diz Ivanilde Brito. A presidente do Sindsaúde também cobra controle
de capacidade e higienização dos transportes públicos da cidade que, segundo
ela, contribuem para a disseminação do vírus.
Lea Santos Lima
é coordenadora de reabilitação na secretaria de Saúde de Lauro de Freitas, na
Região Metropolitana de Salvador, e está afastada por conta da covid-19. “Hoje
completam sete dias e devo fazer o teste de antígeno para voltar a trabalhar”,
conta. A recepcionista do local onde trabalha também testou positivo e está em
casa.
“Como eu sou
coordenadora, quando alguém chega com sintomas gripais eu já afasto e mando
fazer o teste, mas nem todo mundo consegue”, relata Lea. Segundo ela,
funcionários acabam tendo dificuldades em fazer a testagem e vão para o
trabalho mesmo assim. Ela também atua como fisioterapeuta em um hospital da
rede privada na capital: “Lá tem muitos colegas afastados por causa da covid.
Estão tendo remanejamentos para funcionários cobrirem setor diferentes, mas
atuando na mesma área”.
Educação
O Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) demonstra receio com o retorno
das aulas por conta do aumento do contágio. O presidente da APLB, Rui Oliveira,
estima que cerca de 10% dos profissionais da educação do estado estejam
afastados. Ele conta que só na direção do sindicato em Salvador, dez pessoas
estão contaminadas.
“Falei para a
Secretária de Educação que não acho conveniente fazer a semana pedagógica de
forma presencial, nem na rede estadual e nem na municipal. Por conta da
disseminação da covid-19 pela variante Ômicron”, afirma o presidente. Rui
explica que como as aulas presenciais ainda não retornaram, é difícil ter um
número exato de profissionais doentes.
Comércio
Nos shoppings
da capital a situação não é diferente. Nas Casas Bahia do Shopping Piedade, em
Salvador, houve um surto de covid-19 em funcionários este mês, segundo Alfredo
Santiago, coordenador jurídico do Sindicato dos Comerciários. “Ainda estamos
compilando os dados de 2022, mas eles já mostram uma preocupação muito grande.
Estamos vendo surtos em muitos shoppings", afirma. Ainda segundo Alfredo,
o Shopping da Bahia foi o que mais recebeu denúncias sobre casos de contágio em
lojas.
O Sindicato dos
Comerciários estima que cerca de 15% da categoria esteja afastada devido à
contaminação. Alfredo Santiago relata que muitas empresas relutam em liberar os
funcionários sintomáticos: "Os trabalhadores são, em sua maioria, forçados
a trabalhar mesmo com os sintomas, têm dificuldades em se afastar e ainda são
ameaçados". A reportagem tentou entrar em contato com a Associação
Brasileira de Shoppings Centers na Bahia, mas não obteve retorno.
Outros setores
também possuem funcionários afastados. A Polícia Militar da Bahia informou que
182 oficiais estão afastados no estado por conta da covid-19, o que representa
0,86% do total de trabalhadores. A reportagem também solicitou dados da Polícia
Civil, mas ainda não teve retorno. Em Feira de Santana, 17 trabalhadores de uma
agência dos Correios, no bairro Vila Olímpia, estão afastados por conta da
doença.
Em outra
agência da cidade, no bairro Capuchinhos, três funcionários estão afastados. Os
Correios não informaram a quantidade total de trabalhadores com atestado na
Bahia, mas disseram que nenhuma agência precisou ser fechada. A Associação
Geral dos Taxistas (AGT) divulgou que, em janeiro, 41 casos de covid-19 foram
confirmados entre os motoristas. Só em 2021, 76 profissionais foram à óbito por
conta da doença no estado.
A Secretaria
Municipal de Gestão (Semge) foi procurada, mas informou que ainda não possui
dados sobre os profissionais afastados no município. Já a Secretária de
Administração do Estado da Bahia (Saeb) afirmou que não compila esses dados,
uma vez que o afastamento de funcionários infectados é automático e não passa
por nenhum outro setor burocrático.
Ministério da Saúde diminui para dez dias o
prazo de afastamento por covid-19
Em uma portaria
publicada na terça-feira (25), o Ministério da Saúde determinou a diminuição de
15 para dez dias o prazo de afastamento de trabalhadores com casos confirmados
de covid-19, suspeitos ou que tiveram contato com casos suspeitos. O texto diz
ainda que o período pode ser reduzido para sete dias, se o funcionário
apresentar resultado negativo em teste do tipo RT-PCR ou RT-LAMP. Ou ainda
teste de antígeno a partir do quinto dia após o contato.
A redução vale
para casos suspeitos, caso o trabalhador não tenha apresentado febre nas
últimas 24 horas, sem tomar remédios antitérmicos e com a melhora dos sintomas
respiratórios. O texto também diz que as empresas devem adotar medidas para
evitar aglomerações e manter o registro atualizado sobre contaminados à
disposição dos órgãos de fiscalização.
A nova medida
altera a portaria de junho de 2020, que determinou regras para a adoção do
teletrabalho. Agora, na ocorrência de casos suspeitos ou confirmados, o
empregador pode adotar o trabalho remoto como uma das medidas para evitar
aglomerações. A portaria foi assinada em conjunto pelos Ministérios do Trabalho
e Previdência.
Com casos ativos perto de 20 mil, trabalho
remoto volta a ser opção
O aumento de
casos ativos de covid-19 tem feito com que setores retomem o trabalho remoto
para diminuir os riscos de contaminação. O Ministério Público do Estado (MP-BA)
adotou o formato híbrido até o dia 31 deste mês. O órgão estava
funcionando somente em caráter presencial desde novembro do ano passado.
Segundo a
determinação, os servidores só podem exercer suas atividades
presencialmente em quantitativo diário de 30% do quadro de pessoal da unidade e
em escala de rodízio. A recomendação é que os atos administrativos, sempre que
possível, sejam realizados em vídeos conferências. O MP-BA levou em
consideração o aumento da transmissibilidade do coronavírus devido à variante
Ômicron e o surto de gripe, causado pelo vírus Influenza.
A Assembleia
Legislativa da Bahia (Alba) também adotou o mesmo protocolo de restrições do
início da pandemia, em março de 2020. Até o dia 31 de janeiro, apenas serviços
essenciais terão acesso às dependências da Assembleia, sendo vetado o acesso do
público externo. A decisão foi tomada levando em consideração o avanço da
Ômicron e, como o Legislativo está em recesso, não será necessária a realização
de sessões plenárias remotas.
A Câmara de
Vereadores de Salvador também empregou o sistema remoto até o dia 31 de
janeiro. Somente atividades de manutenção predial, informática, serviços gerais
e segurança patrimonial podem ser realizadas presencialmente. O presidente
Geraldo Júnior, recomendou que todos os vereadores e servidores mantenham as
medidas preventivas contra o coronavírus durante o período.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.