A polícia tenta localizar cerca de R$ 500 milhões de reais que pertenciam ao megatraficante Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, uma das lideranças da facção criminosa PCC, executado em dezembro do ano passado na zona leste de São Paulo junto ao comparsa Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”.
A soma
milionária está espalhada em dezenas de investimentos usados para lavagem de
dinheiro, que agora estão “sem dono”.
“O dinheiro está em uma ‘nuvem’. A investigação, com análise dos papéis, dos documentos, das mídias apreendidas após uma queda telemática, a gente vai tentar chegar em todas essas pessoas” disse o delegado Fábio Baena, da Polícia Civil, que investiga as mortes dos integrantes da facção. Ele não descartou uma “caça ao tesouro” de outros criminosos pelos bens de Santa Fausta.
A prisão do empresário do ramo imobiliário Antônio Vinícius Gritzbach nesta semana pode ajudar a polícia a entender se há de fato relação entre as mortes de Cara Preta e Sem Sangue com o dinheiro do traficante. A polícia investiga o envolvimento de outras pessoas na trama.
Milhares de documentos físicos e virtuais foram apreendidos com o empresário e serão detalhadamente analisados.
“Tem
dinheiro em pessoa jurídica, tem dinheiro em loja de veículo, tem dinheiro em
construtora, tem dinheiro em imóveis. E com esses documentos apreendidos, após
uma análise bem profunda, a gente vai tentar identificar todos eles”, completou
Baena.
O
suposto executor teria sido morto pelo próprio crime organizado. Identificado como Noé Alves Schaun, ele foi
decapitado, e sua cabeça foi deixada em uma praça do bairro do Tatuapé.
De acordo com as investigações, ele teria sido contratado para “matar um
agiota” e executou a dupla sem saber que, na verdade, estava atirando em um dos
maiores traficantes do país.
A
morte de Cara Preta, no fim de dezembro de 2021, desencadeou uma série de
outros crimes. Semanas após a execução, dois corpos foram encontrados
decapitados ao lado de bilhetes que sugeriam um acerto de contas pela morte do
chefe do PCC.
Em
23 de janeiro, Claudio Marcos de Almeida, de
50 anos, conhecido como “Django” e apontado como um dos maiores traficantes de
drogas de São Paulo, foi encontrado morto debaixo de um viaduto, no bairro da
Vila Matilde, também na zona leste da cidade.
Empresário admite conhecer “Cara Preta”, mas
nega envolvimento com mortes
Após sua
prisão em um apartamento de alto padrão no bairro Anália Franco, na zona leste
da capital, o empresário Antônio Vinícius Gritzbach prestou depoimento ao DHPP
(Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) por cerca de quatro horas,
e não deixou de responder nenhuma das perguntas do delegado. Ele negou
participação nos crimes, mas disse que conhecia Anselmo Santa Fausta.
Ele
entregou as senhas de celulares e computadores, e forneceu acesso às contas
bancárias e outros dados mesmo sem pedido judicial.
Antônio
estava sem sair de casa há cerca de 20 dias, após ser acusado e ameaçado por
pessoas que ele diz não conhecer de ser o mandante das mortes de “Cara Preta” e
“Sem Sangue”. O empresário não tinha passagens anteriores pela polícia.
A polícia
trata o caso com bastante sigilo e várias hipóteses já foram levantadas para o
assassinato. A principal delas é de que “Cara Preta” foi morto por uma disputa
envolvendo uma dívida de aproximadamente R$ 100 milhões.
“Cara
Preta” estaria envolvido em roubo de aeroporto e tráfico internacional
Investigações sobre o roubo
de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara
Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida
no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo
roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões.
De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.
Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto.