O show de Gusttavo Lima cancelado pela Prefeitura de Campo Alegre de Lourdes (BA) após decisão judicial atrapalhou os planos de comerciantes e turistas. Empresários relatam perdas significativas.
O Ministério Público pediu o
cancelamento do show de Gusttavo Lima que ocorreria na última sexta-feira (9)
pelos festejos da padroeira da cidade, Nossa Senhora de Lourdes. Seu dia é
celebrado neste domingo (11). O cachê do sertanejo para o show foi fechado em
R$ 1,3 milhão.
A Justiça concordou com o pedido
do Ministério Público e apontou que o cachê do cantor era superior ao orçamento
da pasta de Cultura da cidade. Outros dois artistas também iam se apresentar:
Tayrone e Francinaldo Silva, que receberiam, respectivamente, R$ 160 mil e R$
30 mil.
Com a expectativa para a festa,
os comerciantes se programaram para receber o cantor e seu público, mas agora
encaram o prejuízo. "Não foi menos de R$ 60 mil. Fiz o investimento para
inaugurar nos festejos. Meu gasto atinge em torno de R$ 200 mil, porque teve o
investimento da instalação, móveis planejados e mercadoria", disse o
empresário Joel Pereira de Sá, dono da Top Fashion, à reportagem.
"[Foi] Um transtorno
completo, uma decepção. Não estou sendo contra A ou B, mas quem provocou o
cancelamento na verdade prejudicou centenas ou milhares de pessoas. Essa é a
minha opinião", afirma Joel.
Jurandi Miranda, proprietário da
Pousada Miranda, tinha as reservas todas esgotadas para o show. "São oito
quartos. Todo mundo cancelou. Não é costume cobrar com antecedência. Fizemos
uma reforma, trocamos cama, compramos frigobar, que não tinha... A gente queria
deixar a pousada melhor".
Os
grandes shows entraram para o calendário da cidade nos últimos anos. Wesley
Safadão se apresentou em 2023, o que deu um gás para os empresários locais.
"O comércio vendeu roupas, bebidas, a rede de hotel esgotou. Até neste
domingo (11) olhamos o impacto positivo", afirma o secretário municipal de
Eventos e Turismo, Roney Dias Alves.
O secretário avalia que a
economia local deixará de ganhar R$ 20 milhões com o cancelamento.
"Hospedagem, festa da padroeira e shows. Só no dia da festa [9 de
fevereiro] seria em torno de R$ 10 milhões. Esse dinheiro iria circular em toda
cadeia de comércio".
"Por infelicidade cortaram
a festa. A gente teve um prejuízo estrondoso. Fizeram isso e a gente ficou com
prejuízo, o meu é de R$ 40 mil a R$ 50 mil, que é o que eu vendia em meu
restaurante. Para mim, no lugar que moramos, é muito dinheiro. Estou com os
freezers todos cheio de carne, cheio de coisa", diz Maria de Fátima, dona
de restaurante.
Apesar do cancelamento do show de Gusttavo Lima, outros festejos estão acontecendo e geram relativo movimento. "[Na quinta] teve uma festa no clube recreativo. [...] É um decenário da padroeira que dá uma estimulada no comércio, mas não tanto quanto o esperado. Todas as festas [particulares] que estão fazendo estão lotando, mas claro, não quanto se tivesse a confirmação do Gusttavo Lima", lamenta Jurandi.
GUSTTAVO LIMA PODE VOLTAR?
O show do sertanejo foi cancelado por decisão judicial. O juiz entendeu que o dinheiro destinado ao sertanejo representaria um gasto superior ao do orçamento de toda a Secretaria Municipal de Cultura. Tudo isso enquanto a cidade estava em estado de emergência devido à seca.
Segundo a prefeitura, a seca
estava gerando graves prejuízos, principalmente na pecuária e agricultura, e o
decreto serviria para levar auxílios ao município: "Todo ano é feita essa
publicação de estado de emergência para mostrar que se precisa abastecer a área
rural, principalmente áreas extremas do município", justifica o
secretário.
"Não entra em nosso mérito
fiscalizar essa situação. As contratações que partem de entes públicos são
pautadas pelos princípios que regem a administração pública e com base na lei
de contratações. Não temos competência para fiscalizar as contas públicas dos
municípios, estados e união, mas prezamos pela legalidade dos contratos. Cabe
aos tribunais de contas a tarefa de fiscalizar as contas públicas", afirma
Cláudio Bessas, advogado da Balada Eventos, de Gusttavo Lima.
Na comunicação do cancelamento,
a equipe do sertanejo não exigiu multa por rescisão contratual. O valor pago
também vai ser devolvido por Gusttavo Lima, como determina a decisão judicial,
informa o escritório do cantor.
Há chance do artista voltar a se apresentar no município no futuro? "Se a contratação estiver dentro da legalidade, dentro da lei de licitações, nada impede a empresa que representa o artista de celebrar novo contrato", afirma a Balada Eventos.
CACHÊ É ALTO?
Cachês de Gusttavo Lima em shows
públicos e privados estão com valores semelhantes. O valor da contratação do
show pela prefeitura do norte da Bahia ficou em R$ 1,3 milhão (R$ 1,1 milhão de
cachê + R$ 200 mil de transporte).
Splash apurou que empresários
costumam pagar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão, e que o valor pode aumentar
conforme a data. Réveillon ou Carnaval elevam o preço, e a logística de
transporte também é determinante.
O valor milionário do show de
Gusttavo Lima exigiu esforço da administração municipal. O próprio contrato, a
qual Splash teve acesso, previa o parcelamento do cachê até a data da
apresentação.
"Conforme ia entrando a
demanda de receita, a gente ia fazendo o pagamento parcelado. Porque a gente
não tinha essa receita integralmente de R$ 1.3 milhão para fazer ao escritório
Baladas Eventos", admite o secretário de Eventos e Turismo, Roney Dias
Alves.
O
Portal de Transparência mostra que cerca de R$ 400 mil já haviam sido pagos a
Gusttavo Lima, mais impostos por cada nota fiscal gerada; outros R$ 250 mil
estavam liquidados, ou seja, prestes a ser pago; e outros R$ 650 mil empenhados
(reservados pelo município para pagamento), mesmo valor previsto no contrato
para pagamento no dia da apresentação.
(Caio Santana/Folhapress)