Cartas encontradas no esgoto na Penitenciária 2 de Presidente
Venceslau, no interior paulista, ligam o Primeiro Comando da Capital (PCC) a
uma série de crimes que teriam sido cometidos pela facção em Alagoas e em todos
os demais Estados e o Distrito Federal. Nas mensagens, os criminosos tratam
desde tráfico de drogas e de armas a ataques contra agentes públicos e grupos
rivais.
Dezenas
de cartas obtidas pelo Metrópoles são atribuídas pelo Ministério Público de São
Paulo (MPSP) a sete chefões do PCC. Eles comandam a chamada “Sintonia dos
Estados e Países”, célula da facção responsável por coordenar os integrantes e
as ações criminosas fora de São Paulo, ligada à “Sintonia Final”, a alta cúpula
do grupo.
Em
um dos escritos, os líderes mencionam o Estado de Alagoas, fazendo referência a
ataque a uma delegacia de polícia.
"Alagoas,
nós fizemos uma ação na delegacia. Enfiamos bala neles e colocamos fogo numa
das viaturas. Mesmo assim, não conseguimos ter êxito de transferir [...] do
Agreste. Porém, vamos buscar uma outra maneira [...]", diz trecho da carta
enviada.
Atualmente,
o MPSP calcula que o PCC é formado por 100 mil integrantes no Brasil, sendo 40
mil “irmãos” e 60 mil “companheiros”, os que não são batizados. A facção também
opera em outros 23 países, incluindo Estados Unidos, Portugal e Inglaterra.
Encontrado
após a instalação de telas de contenção nos dutos da rede esgoto da cadeia em
março de 2017, o material serviu como base para condenar os sete chefões a mais
12 anos de prisão. A sentença foi proferida no mês passado.
Guerra
entre facções
Boa
parte do material foi escrita por Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden,
criminoso acusado de chefiar ao menos 14 sequestros no país – entre eles, o da
mãe do ex-jogador Robinho, ocorrido novembro de 2004, e o da filha do reitor da
Universidade de Alfenas, em Minas Gerais.
Em
uma das cartas, Bin Laden trata do envio de pistolas e fuzis para integrantes
do PCC no Ceará e em Santa Catarina. No último estado, a facção trava uma
guerra com o bando rival Primeiro Grupo Catarinense (PGC) pelo domínio do Porto
de Itajaí.
Também
são atribuídas a Bin Laden mensagens com informações sobre a Penitenciária
Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, palco de massacres de presos em 2017. Na
ocasião, o PCC assassinou brutalmente 33 rivais.
Na
carta interceptada, o líder da facção paulista afirma que também era articulada
uma “cobrança” (atentado) contra o diretor e funcionários da unidade. “Já
estamos com umas pistolas lá e tamos na batida (…) Puro ódio desses patifes
[sic]”, diz trecho da carta.
Outra
mensagem, atribuída a Rogério Araújo Taschini, o Rogerinho, autoriza o envio de
R$ 3 mil para que integrantes do PCC arremessem munições dentro do Presídio de
Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. Naquele ano, a cadeia também registrou
massacre durante confronto da facção paulista com a rival Família do Norte
(FDN).
Condenados
Também
foram condenados no processo os líderes do PCC Cláudio Barbará da Silva, o
Barbará; Almir Rodrigues Ferreira, o Nenê do Siminone; Reginaldo do Nascimento,
o Jatobá; José de Arimatéia Pereira Faria Carvalho, o Pequeno; e Cristiano Dias
Gangi, o Crisão.
“Demonstrou-se
que as ordens emanadas dos réus são disseminadas não só nos limites do estado
de São Paulo, mas que avançaram para além das fronteiras do território
paulista, alcançando todos os Estados do território brasileiro, bem como os
países vizinhos”, diz a denúncia do MPSP, assinada pelo promotor Lincoln
Gakiya.
Segundo
o promotor, as ações do PCC têm por finalidade a obtenção de “domínio
territorial”, “imposição do medo e terror” e “monopolização da estrutura
criminosa” para obter vantagem financeira da facção. O resultado, segundo
destaca, é “a exponencial elevação dos índices de violência urbana,
principalmente nos estados do Norte e Nordeste do país”.
Na
sentença, ao justificar a manutenção dos condenados na cadeia, o juiz Deyvison
Heberth dos Reis, do Foro de Presidente Venceslau, do Tribunal de Justiça de
São Paulo (TJSP), apontou o grau de periculosidade do grupo.
“Mesmo
estando custodiados, os muros da prisão e o rigoroso regime fechado numa
unidade de segurança máxima não foram suficientes para obstar a promoção,
integração e exercício de liderança em sofisticada organização criminosa,
voltada à prática de crimes graves”, afirmou.