Condenado a 15 anos de
prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava Jato no Paraná, o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, só cumpriu quatro anos e meio – sendo um
deles em casa. Após a revogação da medida que o impossibilitava de sair às ruas,
avisou aos brasileiros que irá voltar à política.
Cunha,
62 anos, disparou diversas críticas e acusações contra o ex-presidente Michel
Temer, o ex-juiz Sergio Moro e a ex-presidente Dilma Rousseff, entre outros
figurões, em uma entrevista para a revista Veja. Ele disse que sua prisão foi
injusta e se tornou um “troféu para Moro”, além de acusar a Lava Jato de abuso
de poder.
“Na
prisão de Curitiba, presenciei as alegações finais de um caso serem entregues
tarde da noite e, às 6 da manhã, já haver sentença. A decisão estava pronta e o
processo era mero detalhe. No meu caso, a sentença saiu em 36 horas. Há, sim,
réus confessos e comprovados na Lava-Jato, mas uma coisa é certa: muitos
mentiram sobre atos de terceiros para atender à operação. E eu era a encomenda
número 1”, relatou Cunha.
Ele
alega que ficou cumprindo medida preventiva mesmo estando em um país onde a
presunção da inocência é parte da Constituição e só se pode executar a pena
depois de a ação transitar em julgado. Cunha assegura que não possui conta no
exterior, sendo apenas um “mero usufrutuário de um trust (fundo que administra
bens) na Suíça, que eu só podia movimentar conforme as instruções do
contrato”.
O
ex-presidente da Câmara foi fundamental no impeachment de Dilma Rousseff. Ele
vê semelhança na maneira como ambos foram retirados da política. “A decisão de
instaurar o processo [de impeachment] se deu antes da representação contra mim
no Conselho de Ética. É óbvio que a ofensiva do governo para tentar me afastar
contribuiu para a minha decisão. O episódio estaria superado não fosse a
disposição do governo em me destruir, usando a Lava-Jato como escudo. No final,
morremos abraçados, eu e o PT”, analisou.
Sobre
o ex-presidente Temer, Cunha contou que eles não se falam desde 2016 e, ao contrário
do que o ex-vice de Dilma fala, ele foi parte ativa da estratégia de
impeachment. Confessou também que se sente traído pelo ex-aliado.
“Renunciei
à presidência da Câmara após uma articulação iniciada por ele e Michel não
cumpriu o combinado, que era evitar ou diminuir a carga do processo de cassação
contra mim. Mas não foi surpresa. Ele não é dado a entrar em bola dividida, a
não ser quando é por interesse próprio”, completou.
Condenado
por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o ex-presidente
da Câmara defende que tudo foi orquestrado pelo sistema. “O processo relativo à
CPI da Petrobras ainda não transitou em julgado. Fui condenado em primeira
instância por um juiz incompetente (Moro) e alvo, sim, de uma orquestração
contra mim feita pelo Rodrigo Janot (ex-procurador-geral da República) e pelo
José Eduardo Cardozo (ex-ministro da Justiça). Tudo por causa dos atritos
iniciados no processo de impeachment”, finalizou.