A convenção nacional do PL
oficializou, neste domingo (24), o presidente Jair Bolsonaro como candidato à
reeleição e o ex-ministro da Defesa Braga Netto, vice.
O evento ocorre no Maracanãzinho, que
estava tomado pelas cores verde e amarelo. Bolsonaro chegou ao local
acompanhado da primeira-dama, Michelle, de Braga Netto e sua esposa.
A cerimônia começou com uma oração do
deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP). Depois, Michelle passou a
discursar.
Atrás do palco, imagem da bandeira do
Brasil e foto do presidente apoiadores e o slogan “Pelo bem do Brasil”,
antecipado pela Folha.
A frase é da coligação da chapa de
Bolsonaro, e tem como mote a tese de “luta do bem contra o mal”, que o
mandatário tenta imprimir à eleição deste ano na disputa contra o petista.
O estádio tem capacidade para 11,8
mil pessoas. Marcaram presença no palco candidatos, parlamentares e aliados,
como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) —que foi ovacionado por
bolsonaristas.
Levantamento do Datafolha do final de
junho mostra o petista 19 pontos à frente de Bolsonaro, marcando 47% contra
28%, no primeiro turno.
Entre os aliados que subiram ao palco
estavam o presidente da Câmara, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro
(PL), candidato de Bolsonaro no estado; o ministro Marcelo Queiroga, da Saúde;
Ciro Nogueira, da Casa Civil; Fábio Faria, das Comunicações; Anderson Torres,
da Justiça e Segurança Pública; e Victor Godoy, da Educação.
Quando as autoridades subiam ao
palco, tocava o barulhinho da urna eletrônica.
Também estiveram por lá o ex-ministro
da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, que disputará o governo de São Paulo; o
ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello; a ex-ministra da Agricultura Tereza
Cristina; o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef; e os deputados federais
Hélio Lopes, Bia Kicis e Carla Zambelli.
Um dos políticos mais aplaudidos
pelos presentes foi o deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo STF
(Supremo Tribunal Federal) a 8 anos e 9 meses de prisão, em regime inicial
fechado, por ataques aos ministros da corte. Um dia depois, no entanto, recebeu
um indulto de Bolsonaro.
Todos os convidados foram instruídos
a levarem seus cônjuges, suas famílias. A campanha quer dar destaque especial
às mulheres no palco.
O PL queria que a convenção deste
domingo destacasse o papel da família e, principalmente, das mulheres. Esta
fatia do eleitorado é a que o presidente encontra maior dificuldade: segundo o
último Datafolha, a rejeição neste segmento é de 61%.
A campanha já vinha insistindo há
meses para que a primeira-dama participasse mais das agendas ao lado do
presidente. A avaliação é de que ela tem potencial de ser um importante cabo
eleitorado junto às mulheres.
Michelle, contudo, vinha resistindo.
Por isso, nos últimos dias, integrantes da campanha temiam afirmam
categoricamente que a primeira-dama discursaria, ainda que fosse esperada.
Coube à ela uma breve fala em agradecimento às mulheres e uma oração – ela é
evangélica.
Bolsonaro foi aconselhado a destacar
o que seu governo fez pelas mulheres e evitar atacar urnas eletrônicas, como o
fez nesta semana a embaixadores.
Mas como ele atua de improviso, era
impossível prever o que dirá no dia, de acordo com aliados.
Uma parte do seu entorno fica
apreensiva quando o presidente atua no improviso, outra atribuia sua
popularidade à sua espontaneidade.
Outro eleitorado em que Bolsonaro
precisa melhorar são os jovens, hoje mais propensos a votar no ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A rejeição do mandatário entre esses eleitores
é de 60%. Entre estudantes, 60%.
Assim, a campanha organizou cabines
de TikTok pelo estádio do Maracanãzinho. Apoiadores puderam gravar vídeos
curtos para a rede social com intuito de impulsionar o evento.
A Folha mostrou, no final de abril,
que vídeos vinculados a Bolsonaro tinham audiência no TikTok 13 vezes superior
aos conteúdos relacionados ao petista, segundo uma pesquisa de doutorado.
A rede social é ocupada,
predominantemente, pelo público jovem.
O levantamento mostrava que, somando
as dez principais hashtags ligadas aos adversários eleitorais, os vídeos de
Bolsonaro representaram 92% das visualizações contra 8% de Lula —em números
totais, é o equivalente a 10,06 bilhões versus 778 milhões.
No início da semana, opositores se
mobilizaram para resgatar ingressos e esvaziar o evento de Bolsonaro. A
movimentação levou a campanha a fazer um pente fino e cancelar inscrições.
Segundo interlocutores, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) será acionado para
apurar o episódio.
A cerimônia contou com a apresentação
da dupla sertaneja Mateus e Cristiano, que cantou o hino nacional e o jingle da
campanha, “capitão do povo”.
“É o capitão do povo que vai vencer
de novo/ Ele é de Deus, e pode confiar/ Defende a família e não vai te
enganar”, diz estrofe da canção. Bolsonaro tem forte identificação com o
público sertanejo.
Ficou responsável pela apresentação
do evento deste domingo um locutor de rodeio, o mesmo que atuou no encontro
nacional do partido, em março, Carlos Rudiney.
Centenas de apoiadores vestindo
camisas do Brasil e carregando a bandeira nacional aguardavam em filas para
entrar no local do evento. Um grande grupo assobiou e aplaudiu para a passagem
de uma equipe de policiais militares.
Ambulantes vendiam uma camisa com
referência ao artigo 142 da Constituição Federal, que disciplina o papel dos
militares e é usado por bolsonaristas como argumento para defender que existe
previsão legal para intervenção militar no país.
A tese é repudiada por instituições
como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Câmara dos Deputados.
Em reunião ministerial em abril de
2020, Bolsonaro fez menção ao artigo para defender a hipótese. “Todo mundo quer
cumprir o artigo 142. E, havendo necessidade, qualquer dos Poderes pode, né?
Pedir às Forças Armadas que intervenham para reestabelecer a ordem no Brasil”,
disse.
Na camisa vendida neste domingo
também foram grafados os dizeres: “Voto impresso auditável: eu apoio!”. A pauta
é utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro para mobilizar apoiadores em torno
de discursos de tom golpista contra as eleições.
Dentro do estádio, um cartaz levado
por apoiador do presidente fazia menção à cantora Anitta, que declarou voto em
Lula (PT). A campanha de Bolsonaro tem tentado minimizar a relevância do apoio
da artista ao seu maior adversário.
“Obrigado Anitta por ser a melhor
cabo eleitoral do Bolsonaro de todos os tempos”, dizia o cartaz.
A campanha começa, oficialmente, na
segunda metade de agosto. No início do ano, a filiação do presidente já teve
clima de comício, ainda que não tenha mencionado sua candidatura, por orientação
jurídica.
Na ocasião, além de trazer a ideia de
luta do bem contra o mal, em uma referência ao PT, também falou sobre liberdade
e “jogar nas quatro linhas [da Constituição]”.
O ato teve de ser reformulado para se
adequar à legislação eleitoral, como mostrou a Folha. Inicialmente, o convite
era para o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro, mas não há previsão
legal para isso, então fizeram um evento de filiação.